16.9.17

Dos meus detalhes

Às vezes fico me perguntando se as pessoas também prestam atenção em mim. Se percebem quando estou ansiosa, se estou querendo pedir algo ou apenas cansada. Será que alguém percebe quando o meu sorriso é falso e o “tudo bem” esconde uma porção de preocupações?

De vez em quando imagino se alguém abre minha conversa no WhatsApp e fica pensando no que falar. Ou se alguém perde alguns segundos decidindo se me liga ou não, apenas porque gostaria de ouvir minha voz. Ou se nos momentos de tédio relê cada mensagem que enviei. Outras vezes me iludo achando que alguém entra neste blog e se dispõe a ler as bobagens que escrevi.

Num ponto mais extremo, me pergunto se alguém abre minha foto no celular e pensa “como ela é bonita” ou “estou com saudade dela”. Gostaria de saber se alguém também repara nos meus detalhes. Meu jeito de mexer o café, morder o lábio, sentar com as pernas cruzadas. Minhas manias, gírias ou palavras que mais uso. Qual a cor dos meus olhos e onde tenho cócegas? Será que alguém consegue reconhecer algo que escrevi? Será que alguém fica pensando onde estou ou o que estou fazendo? Será que alguém olha para algo e pensa “isso é a cara dela”?

Você sabe a minha cor favorita? O sorvete que sempre peço ou o livro que mais amo? Quais são os meus sonhos? Já percebeu minhas marcas e cicatrizes, os cachos do meu cabelo ou o formato dos meus dentes? Sabe quando estou com raiva e mesmo assim digo que não? Quando estou explodindo de ciúmes e finjo não me importar? Aposto que nem sabe como é minha letra.

Outra coisa, será que alguém se importa com o significado dos meus silêncios e sumiços?

Como disse certa vez a um amigo na universidade, estou sempre “seguindo” as pessoas, mas ninguém me “segue” de volta. Acho que ninguém se esforça para descobrir meus pormenores. Não consigo lembrar de ninguém que tenha observado tantos detalhes em mim, porque sempre sou eu que faço isso. Me entrego e ponho as pessoas num patamar de importância. Noto seus detalhes e me apaixono por cada um deles. Desde uma barba malfeita a uma pinta no ombro esquerdo.

Às vezes fico pensando se alguém realmente me notará algum dia. Se alguém me conhecerá nas entrelinhas. Se as minhas singularidades serão tão interessantes para se observar. E nem precisa aparecer com suculentas, barras de chocolate amargo, canetas coloridas ou livros de fotografia. Apenas apareça e me diga que você existe. Mais ainda, que eu existo para você.