24.3.16

O loop infinito do descaso

Fazia um tempão que eu não andava de táxi. Daí calhou de eu precisar ir num médico e em seguida numa farmácia de manipulação. Não dava para ir de ônibus, pois era uma rota complicada, cada lugar ficava num caminho diferente e disposição para andar devagar no sol quente eu não tinha.

Quando entrei no primeiro táxi, fiquei sem saber o que fazer. Fico calada? Fico mexendo no celular? Puxo conversa? Falo de Lula e Dilma? Dos ovos de páscoa caros?

Para minha sorte, assim que paramos num sinal vi um rapaz jogar uma garrafa vazia no chão de um posto de gasolina. Bem próximo do rapaz tinha uma lixeira grande. Enorme, para ser mais precisa. Seriam mais ou menos cinco passos com as pernas compridas que ele tinha. Mas não. É mais fácil jogar no chão e alguém que limpe.

Ou que chova, encha de água, fique lá parada e vire uma casinha linda e aconchegante para a dengue. Falei para o taxista que o rapaz era um mal educado. O taxista ficou surpreso e perguntou se eu era de outra cidade. 

Olha onde chegamos: eu teria que ser turista ou de algum canto civilizado para saber que lixo se joga no lixo. Que é obrigação de cada um cuidar da cidade onde mora. Que se o mosquito não nasce, a doença não passa.

“Eu sou daqui mesmo. É que perto da minha casa tem um foco de dengue, justamente porque as pessoas jogam lixo na rua.”

Ele concordou, trocamos mais algumas palavras, cheguei no meu destino. Nas duas outras corridas que fiz, a mesma coisa: continuei vendo exemplos de lixo pela rua. Aí cansei de comentar. 

Esse ano o ovo de páscoa está caro, né?

17.3.16

Pequenas alegrias na caixa de entrada

Em tempos de mensagem instantânea, receber um e-mail pessoal é artigo quase tão raro quanto receber uma carta. É sempre promoção de loja, coisas de trabalho, avisos da faculdade, confirmação de compra, spam, notificações das redes sociais etc.

Felizmente, isso está mudando. 

Toda semana recebo newsletters divertidas com recomendações de livros, comentários sobre filmes, besteiras sobre a vida; e todas com um jeitinho tão íntimo, que parece que foi escrita só para mim. 

Só não invento de fazer uma porque além de ter pouquíssimos leitores, não tenho assunto para sustentar uma newsletter. Minha vida é pautada entre ter crises de ansiedade e crises existenciais. Mas enfim. Quero mais textinhos para ler no meu e-mail.

6.3.16

Sobre o peso da ansiedade

Faz um tempo que vejo as pessoas falando mais abertamente sobre ansiedade e seus transtornos. O que acho muito bom, pois não é apenas a depressão que merece destaque. É um problema sério? Sim. Afeta a vida de várias pessoas? Com certeza. Mas a ansiedade também. 

Desde criança eu sou ansiosa e achava que isso era uma característica de personalidade, como ser tímido ou engraçado. Nessa época eu convivia bem com ela, até que os anos foram passando, situações novas acontecendo e os sintomas mudando. 

Na época que eu fazia cursinho pré-vestibular, tinha dias que eu vomitava sem motivo nenhum e minha mãe achava que era algum problema de estômago. Depois, entre o segundo e o quinto período na universidade, comecei a ter crises de pânico. Eu não podia ir para nenhum lugar diferente da minha rotina porque achava que ia morrer. Felizmente, com muita graça divina e atividade física consegui ficar bem.

Hoje em dia a ansiedade voltou a me perturbar. O problema é que, como eu tive depressão, passei um longo período estressada, e ainda convivo com preocupações, os sintomas ficaram bem piores: insônia, dor de barriga, náuseas, taquicardia, dificuldade para respirar, tensão muscular, pânico, aperto no peito, dor no estômago, fraqueza e sensação de que estou enlouquecendo.

Tudo isso é desgastante. Quase sempre estou me sentindo cansada, minha qualidade de sono é ruim, minha imunidade baixa com facilidade, e o pior, tenho crises que acontecem do nada. Pode ser num supermercado, antes de dormir, dentro do carro, no cinema – qualquer lugar e qualquer hora.

Atualmente meu medo não é de morrer, mas de ir para lugares que não posso “fugir”. De ter um ataque de pânico na rua. De ter uma crise de enxaqueca ou um mal-estar fora de casa. Só me sinto segura em casa. Se por acaso eu tiver enxaqueca, o remédio está na gaveta e a bolsa de gelo pronta no congelador. Se for um mal-estar, tenho minha cama para deitar e um banheiro livre perto do quarto. Se for para ter um ataque, pelo menos estou dentro de casa.

Para quem está de fora é difícil compreender. É normal que pensem que é frescura, desculpa esfarrapada ou preguiça de sair de casa. Que pensem que é loucura. Algumas pessoas tentam compreender, dão conselhos, mandam fazer terapia, indicam médicos. Mas para quem suporta, como eu, e tantos outros, a ansiedade é um pesadelo. É uma prisão. É como sentar no canto do quarto, todo encolhido, enquanto uma névoa densa vai sufocando e escurecendo tudo.

Tem dias que eu não sei o que fazer, que fico puta de raiva, que prefiro não me desgastar (ainda mais) e evito determinadas situações, que fico contando números, que tento meditar, que consigo uma vitória, que saio pesquisando terapias alternativas, além do tratamento que comecei com homeopatia. E nisso, é uma vida que vai se tornando limitada, por mais que eu queira vivê-la por completo.

1.3.16

Leituras de fevereiro

Fevereiro foi um mês complicado em termos de saúde. Pensei que ia terminar um livro que comecei no ano passado – um desses que são meio arrastados, com personagens meio chatos, mas que ao mesmo tempo conseguem prender a atenção –, quando fui picada pelo mosquito da dengue. Tive que dar uma pausa nas leituras, nos estudos, nas séries, na vida em geral. Agora me resta ter paciência enquanto minhas articulações se recuperam e minha rotina vai voltando ao normal.